Tudo que Roberta Sá canta tem o apuro burilado ao longo de 20 coerentes anos
Roberta Sá lança hoje, 12 de dezembro, o álbum 'Tudo que cantei sou' Flora Negri / Divulgação ♫ PRIMEIRA PESSOA DO SINGULAR ♬ Mesmo que quisesse, eu n...
Roberta Sá lança hoje, 12 de dezembro, o álbum 'Tudo que cantei sou' Flora Negri / Divulgação ♫ PRIMEIRA PESSOA DO SINGULAR ♬ Mesmo que quisesse, eu não conseguiria ficar indiferente ao lançamento de Tudo que cantei sou, álbum audiovisual que Roberta Sá lança hoje, 12 de dezembro, com 14 músicas gravadas sem plateia no palco da Casa de Francisca, em São Paulo (SP). Como me apaixonei à primeira audição pelo canto de Roberta ao detectar o frescor e a leveza da gravação do samba A vizinha do lado (Dorival Caymmi, 1946) feita pela cantora para a trilha sonora da novela Celebridade (2003), sempre fiquei atento à cada passo da artista. O encantamento se intensificou com o lançamento do primeiro álbum da cantora a ir para as lojas, Braseiro, lançado em 2005, há 20 anos. O álbum Tudo que cantei sou é um recorte apurado do show homônimo idealizado por Roberta para celebrar essas duas décadas de sucesso. Apuro é a primeira palavra que me vem à mente quando quero qualificar o canto de Roberta Sá. Mesmo quando ela gravou repertório mais irregular, como no álbum Giro (2019), em que deu voz somente a músicas inéditas de Gilberto Gil (nem todas à altura do compositor) em movimento que lhe deu prestígio adicional entre as cantoras da geração de Roberta, havia esmero no canto, havia a busca por requinte. Esse capricho reverbera em Tudo que cantei sou, álbum em que a voz límpida de Roberta Sá se harmoniza com o bandolim de Alaan Monteiro e o violão de Gabriel de Aquino em formato íntimo, mas não informal. Ao contrário. Não falta nota. Tampouco sobra. Salta aos ouvidos o entrosamento com que o trio se afina no canto de músicas como o ijexá Água doce (Roque Ferreira, 2010) e a a canção Casa pré-fabricada (Marcelo Camelo, 2001). Por conhecer detalhadamente a discografia de Roberta Sá, a seleção do disco e show Tudo que cantei sou me causou surpresa já na estreia nacional da turnê – clique aqui para ler a resenha da apresentação de 5 de junho – a opção por minimizar bastante no roteiro o repertório do álbum Que belo estranho dia para se ter alegria (2007), título que consolidou o nome de Roberta dois anos após os louros colhidos com o álbum inicial Braseiro. A ausência do sucesso do segundo álbum, Mais alguém (Moreno Veloso e Quito Ribeiro, 2007), foi sentida, já que o roteiro tinha caráter retrospectivo. Capa do álbum ‘Tudo que cantei sou’, de Roberta Sá Divulgação Em contrapartida, o baiano Roque Ferreira é compositor dominante no roteiro. Além do já mencionado ijexá Água doce, Roberta rebobinou Cocada e Marejada, duas músicas do álbum lapidar gravado há 15 anos pela cantora com o Trio Madeira Brasil somente com músicas de Roque Ferreira. Além de ser meu disco preferido de Roberta Sá, Quando o canto é reza (2010) me mostrou que havia ali uma cantora de personalidade forte. Dedicar um álbum às canções afro-brasileiras de Roque era tudo o que não se esperava de Roberta Sá após o sucesso de um segundo álbum que gerou em 2009 o registro ao vivo de show intitulado Pra se ter alegria, necessidade mercadológica na era do DVD. Tudo que cantei sou faz o resumo da trajetória coerente da artista. Contudo, Roberta Sá não se limita a reabrir a cortina do passado, dando voz à recente canção Essa confusão (2024) – celebrada parceria de Dora Morelenbaum e Zé Ibarra, já gravada pelos autores nos respectivos álbuns, mas inédita na voz de Roberta – e ao samba Virada (2021), da lavra de Marina Iris e Manu da Cuíca. Sim, Roberta canta samba e a lembrança de Eu sambo mesmo (Janet Almeida, 1946) – tema do repertório do grupo Anjos do Inferno que João Gilberto (1931 – 2019) reavivou em 1991 – é significativa. A música que abre o álbum Braseiro volta como uma carta de princípios em Tudo que cantei sou, como se Roberta Sá dissesse que, 20 anos depois, ainda é a mesma cantora com o mesmo frescor e a mesma leveza, mas um apuro cada vez maior, efeito da maturidade vocal. Por isso mesmo, torço para que, tão logo encerre o ciclo comemorativo desses 20 anos, Roberta Sá grave um álbum de estúdio com músicas inéditas para ampliar e turbinar discografia que a rigor nunca saiu do eixo, mesmo quando a artista olha para o passado. Roberta Sá rebobina três músicas do compositor baiano Roque Ferreira no álbum 'Tudo que cantei sou' Flora Negri / Divulgação